sábado, 17 de abril de 2010

O paradoxo do amor e do ódio.

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No último espasmo do gozo, ela gritou, os olhos injetados de sangue:

-Eu te odeio!

Sim, ela odiava aquele traste - na proporção inversa da sua atração por ele.

Germano sempre foi um formidável cafajeste. Muito narciso, já entrava nos trinta, solteirão, metido a fisioculturista, incapaz de levar adiante qualquer relacionamento por mais de uma ou duas semanas.

Achava-se o máximo, e o mulherio tinha uma boa parcela de culpa nisso, suspirando pelo danado mesmo conhecendo claramente a natureza promíscua do dito cujo.

Liliana, tal qual uma Cherazade dos contos árabes, achou logo um meio de entreter por mil e uma noites aquele garanhão indomável.

A primeira transa foi transcendental. Amou-o com tal intensidade e maestria, que conseguiu manter o safado no seu jugo feminino por longas três semanas.

-Ei-lo! Agora é meu! – ela comemorou no seu íntimo. E concluiu que a arte tântrica e a Kamasutra não formavam casais solidamente monogâmicos à toa no longíquo Oriente.

Mas... um cafajeste é sempre um cafajeste. E Germano já se entrelaçava com outras ao final esse período. E ela, muito danada dessa vida, descobriu a trapaça - mas ainda assim não conseguiu deter a marcha da sua paixão desenfreada.

Estava totalmente à mercê do imprestável. E então, sob o corpo dele, ela declarou que o odiava, enquanto sentia o sêmen se alojar, bravio e selvagem, nos mais profundos escaninhos das suas entranhas.

E odiando ele, ela foi estranhamente feliz por três longos anos, sentindo-se na vil qualidade de amante, quebra-galho, namorada a tiracolo...

Findo esse período, Germano chegou até ela, mais domado, menos cúpido, e desatou a falar sobre família, filhos, uma casa, vida pacata, envelhecer juntos, dividir frieiras e reumatismos...

O cafajeste caía, e com ele morria mais um garanhão, num mundo onde só os garanhões são verdadeiramente amados.

Liliana afastou-se aos poucos. O encanto definhou até se tornar uma indiferença visível. Os orgasmos dela já não eram tão intensos; e os seus olhos já não se injetavam de sangue ao senti-lo ejacular dentro dela.

E assim, numa noite lânguida de falso amor, ela murmurou, fitando-o distante:

-Eu te amo.

E, amando-o, afastou-se para sempre.

E os deuses desceram à Terra.

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"Já fui macaco em domingos glaciais, Atlantas colossais, que eu não soube como utilizar."
(Raul Seixas)

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Na longa intevenção dos Anunnakis sobre a Terra, a fertilização das filhas dos homens não foi uma tarefa fácil.

Ainda que os registros sagrados revelem que foram tomados os mais belos exemplares, não havia fêmeas tão exuberantes entre os homo-erectus.

As mulheres pré-Anunnakis carregavam ainda a compleição das viragos: robustas, púbis mui hirsuta, crânio proeminente, fronte curta e cabeleira nem muito longa, ondulada ou sedosa. Traziam feições simiescas, revelavam inteligência curta e uma anuência assombrosa aos rituais do coito.

Somente após muitas e muitas gerações é que as fêmeas híbridas - já descendentes dos deuses e dos homens - começavam a lembrar os primeiros tipos hiperbóreos: pele alva, ombros estreitos e retilíneos, traços faciais suaves, olhos claros e uma grande capacidade de raciocínio e assimilação, apanágio dos tipos de Nibiru dos quais em parte descendemos.

Portanto, a intervenção dos Nefilins - ou os Filhos de Deus - não foi somente uma operação de alienígenas lascivos. Foi primordialmente uma guinada crucial para o futuro do globo pós-diluviano.

A depuração das raças pode estar na iminência de sofrer uma nova intevenção dirigida no processo da seleção natural e da aleatoriedade das mutações genéticas - que lado-a-lado fazem dos globos uma oficina gigantesca da evolução.

Os geneticistas do Espaço trabalham diligentemente nesse sentido. Contra a degeneração racial simbolizada por Sodoma e Gomorra e experimentada pelas desastrosas invasões bárbaras, pelo Colonialismo e suas consequentes miscigenações.