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No último espasmo do gozo, ela gritou, os olhos injetados de sangue:
-Eu te odeio!
Sim, ela odiava aquele traste - na proporção inversa da sua atração por ele.
Germano sempre foi um formidável cafajeste. Muito narciso, já entrava nos trinta, solteirão, metido a fisioculturista, incapaz de levar adiante qualquer relacionamento por mais de uma ou duas semanas.
Achava-se o máximo, e o mulherio tinha uma boa parcela de culpa nisso, suspirando pelo danado mesmo conhecendo claramente a natureza promíscua do dito cujo.
Liliana, tal qual uma Cherazade dos contos árabes, achou logo um meio de entreter por mil e uma noites aquele garanhão indomável.
A primeira transa foi transcendental. Amou-o com tal intensidade e maestria, que conseguiu manter o safado no seu jugo feminino por longas três semanas.
-Ei-lo! Agora é meu! – ela comemorou no seu íntimo. E concluiu que a arte tântrica e a Kamasutra não formavam casais solidamente monogâmicos à toa no longíquo Oriente.
Mas... um cafajeste é sempre um cafajeste. E Germano já se entrelaçava com outras ao final esse período. E ela, muito danada dessa vida, descobriu a trapaça - mas ainda assim não conseguiu deter a marcha da sua paixão desenfreada.
Estava totalmente à mercê do imprestável. E então, sob o corpo dele, ela declarou que o odiava, enquanto sentia o sêmen se alojar, bravio e selvagem, nos mais profundos escaninhos das suas entranhas.
E odiando ele, ela foi estranhamente feliz por três longos anos, sentindo-se na vil qualidade de amante, quebra-galho, namorada a tiracolo...
Findo esse período, Germano chegou até ela, mais domado, menos cúpido, e desatou a falar sobre família, filhos, uma casa, vida pacata, envelhecer juntos, dividir frieiras e reumatismos...
O cafajeste caía, e com ele morria mais um garanhão, num mundo onde só os garanhões são verdadeiramente amados.
Liliana afastou-se aos poucos. O encanto definhou até se tornar uma indiferença visível. Os orgasmos dela já não eram tão intensos; e os seus olhos já não se injetavam de sangue ao senti-lo ejacular dentro dela.
E assim, numa noite lânguida de falso amor, ela murmurou, fitando-o distante:
-Eu te amo.
E, amando-o, afastou-se para sempre.