É o maior fantasma de todo escritor.
A folha estendida na mesa. Alva como cera. Desafiadora.
O escritor se debruça sobre ela. Morde o lápis. Bate o pé ritmado sob a escrivaninha.
-Ah, Deus, Deus, as palavras não vêm!...
E nem virão. Ele sente que têm bilhões de idéias geniais, mas elas se recusam a se transformar em palavras. E as palavras se recusam a tornar tangíveis tuas idéias.
Literato amigo, é melhor parar por aí. Não force a barra. Fica na tua, vai tomar uma cerveja, uma ducha fria, ou amassa a maldita folha e faz um pouquinho de malabarismo com ela sobre a mesa.
Se forçar, sai merda. Você vai ter vergonha de você mesmo, de ser chamado "escritor".
Você acredita em musas? Então a culpa é delas. Eu, como não acredito, digo: a culpa é tua!
Vida de escritor é isso aí, meu chapa! Hoje você ganha, amanhã você perde, e vamos tocando o barco... ou, no caso, as malditas folhas alvas.
Coloca na tua cabeça que é a obra que escolhe o autor, e não o autor que escolhe a obra. Parece absurdo. Parece surreal. Parece sobrenatural. MAS É ASSIM!
Então, se o fulano emplacou um conto escrevendo um rascunho em cinco minutos, sentado no vaso sanitário ou testando a caneta numa folha de enrolar presunto fatiado - sorte dele.
Enquanto você durante toda a vida projetou um calhamaço, arquitetou a trama, montou prólogo, epílogo, revisou trezentas vezes a forma, buscou no latim a etimologia apropriada para o nome de cada personagem - e morreu na praia.
Você não é incompetente. Você pode até ser uma sumidade. Mas se esqueceu do fator RISCO e do fator SORTE que, digam o que quiserem, são os norteadores do sucesso ou do fracasso.
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