sexta-feira, 22 de abril de 2011

Era só uma macumbinha.

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Ela mesma fez sua macumbinha.

Menina cerimoniosa, filha da Wicca e adepta dos florais de Bach, foi à casa de artigos religiosos, comprou alguidar, vela preta e fita vermelha, pimenta malagueta e farofa e cachaça e fumo.

Muito lépida e muito húmida, acocorou-se no meio do jardim no fundo da casa e meteu-se a compor o ebó.

-Ele vai ser meu! – vaticinou com uma voz firme e um olhar determinado.

A menina não passava dos dezessete aninhos. Mas amava (ou cria amar) aquele lorde, casado, quarentão, já um pouco calvo e com uma barriga levemente rotunda.

Mas, que importa. Ele amava a cerveja, ela amava a cannabis. Ele amava o golfe, ela amava as raves. Tinha tudo para dar certo, mesmo no papel da amante.

E o ebó ficou bem bonito, vistoso, colorido. E com muito cuidado ela engavetou o despacho sob um pinheiro retorcido, na parte mais fechada do jardim.

Ofereceu ao gnomo da floresta... digo, do jardim, e lá se foi alegre esperando o resultado do seu trabalho.

As entidades da Umbanda não gostaram nem um pouco do aspecto eclético da coisa. A menina devia ter sido mais específica. Não rolou nem um charuto, nem uma insubstituível galinha preta. E ainda pra um duende... digo, um gnomo!

O deva do jardim foi ter com o Capa Preta. Confabularam por um bom tempo. E do alto daquele conciliábulo, saiu o veredicto, em meio às gargalhadas do terrível exu:
-Castiguemo-la! Vou lançar o pançudo careca na vida da menina. E serão infelizes para sempre!

O feitiço pegou! E foi mais trabalho para o pessoal do Setor Cármico. Mais uma vez a experiência, no físico como no astral, mostrou que a inépcia engendra a ofensa, e esta o fisiologismo que entrava os assuntos celestiais... ou infernais.

Um comentário:

  1. Me amarrei no modo de compor. Palavras são somente palavras, mas arrumadas, mexidas e desarrumadas para depois ordená-las novamente... O tempero é o q se consome do alimento. Brigadu mano.

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