sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Um certo caso de PENSAMENTO NEGATIVO.

Foi minha primeira namorada.

Bem, ela não sabia disso. Mas era minha namorada.

Eu tinha dezesseis anos. Ela quinze. Eu já tinha experimentado outras paqueras (hoje é o ficante) antes. Mas tudo ficou sem graça e sem sabor quando eu conheci ela - por isso digo que foi minha primeira namorada.

Ela era comprometida, e há muito tempo. Namorava sério um carinha que cresceu morando na mesma rua que ela, amigos de infância, depois namorados, depois planos de se casar e montar casa e ter filhos e envelhecer juntos.

Eu amava ela. Mais que tudo. Ela era meu chão, meu céu e meu EU. E ela não sabia disso.

Sofri calado durante todo o ano escolar. Era timidíssimo. Um poço de timidez. E ela deixava esvoaçar o cabelo, fazia pose, ria-se e brincava e vivia de forma sadia - totalmente alheia ao meu sofrimento.

Um dia me declarei. Não a ela, mas à sua amiga, com a qual eu contava com certa proximidade. A amiga contou à pretendida (pretendida? Era algo morbidamente platônico).

A beldade mandou recado de volta: "Eu nunca poderia imaginar... Ele é tão quietinho". Foi tudo que eu podia esperar dela. Nada mudou. Eu mereci esse purgatório de quase doze longos meses.

No final do ano letivo, ela se debatia em meio a algumas notas baixas. Corria risco de reprovar. E caiu na matéria para fazer a última e decisiva prova.

A menina abateu-se a olhos vistos. E murmurava, quase numa prece, quase num mantra, meneando a cabeça:

-EU NÃO VOU CONSEGUIR!!!

Por um mecanismo de estranha empatia caí ao seu lado, condoído. E a cada mentalização dela, mais eu a amava.

EU NÃO VOU CONSEGUIR!!!

O ano se foi. Ela reprovou. Eu deixei de amá-la com mesma intensidade e rapidez com que a amei. E hoje, ao me lembrar dela, só me recordo da sua frase que ela repetia tão firmemente:

EU NÃO VOU CONSEGUIR!!!

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