Foi minha primeira namorada.
Bem, ela não sabia disso. Mas era minha namorada.
Eu tinha dezesseis anos. Ela quinze. Eu já tinha experimentado outras paqueras (hoje é o ficante) antes. Mas tudo ficou sem graça e sem sabor quando eu conheci ela - por isso digo que foi minha primeira namorada.
Ela era comprometida, e há muito tempo. Namorava sério um carinha que cresceu morando na mesma rua que ela, amigos de infância, depois namorados, depois planos de se casar e montar casa e ter filhos e envelhecer juntos.
Eu amava ela. Mais que tudo. Ela era meu chão, meu céu e meu EU. E ela não sabia disso.
Sofri calado durante todo o ano escolar. Era timidíssimo. Um poço de timidez. E ela deixava esvoaçar o cabelo, fazia pose, ria-se e brincava e vivia de forma sadia - totalmente alheia ao meu sofrimento.
Um dia me declarei. Não a ela, mas à sua amiga, com a qual eu contava com certa proximidade. A amiga contou à pretendida (pretendida? Era algo morbidamente platônico).
A beldade mandou recado de volta: "Eu nunca poderia imaginar... Ele é tão quietinho". Foi tudo que eu podia esperar dela. Nada mudou. Eu mereci esse purgatório de quase doze longos meses.
No final do ano letivo, ela se debatia em meio a algumas notas baixas. Corria risco de reprovar. E caiu na matéria para fazer a última e decisiva prova.
A menina abateu-se a olhos vistos. E murmurava, quase numa prece, quase num mantra, meneando a cabeça:
-EU NÃO VOU CONSEGUIR!!!
Por um mecanismo de estranha empatia caí ao seu lado, condoído. E a cada mentalização dela, mais eu a amava.
EU NÃO VOU CONSEGUIR!!!
O ano se foi. Ela reprovou. Eu deixei de amá-la com mesma intensidade e rapidez com que a amei. E hoje, ao me lembrar dela, só me recordo da sua frase que ela repetia tão firmemente:
EU NÃO VOU CONSEGUIR!!!
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