...
Meia-noite.
Somente a orquestra monótona dos grilos cortava o silêncio escuro da encruzilhada.
Era uma galinha, e preta. Metida no alguidar com a farofa, a aguardente, os círios vermelhos, o charuto e o dendê - ela atraiu um incauto egum.
A entidade veio cambeteando, debruçou-se sobre o despacho. Os olhos injetados de sangue. Os caninos à mostra, proeminentes, ávidos pela oferenda: a galinha preta.
Mas não conseguiu sugar os eflúvios do ebó. Um guerreiro das sombras surgiu, estalou o chicote no ar e bradou, enérgico, mandando o intruso se afastar.
-Tranca-Rua! - o quiumba deu um salto, apavorado. Tentou correr, escorregou na cera da vela rubra e, manquitolando em desespero, acabou cercado por uma falange de demônios.
-Fazendo arruaça nas quebradas! - gargalhou o Exu aproximando-se da alma penada.
-Piedade! - o quiumba suplicou.
O guardião não teve piedade. Brandindo a vergasta, desferiu três chicotadas no egum. Uma ardeu-lhe no maxilar, outra rasgou seu tórax, e outra, enlaçando como uma serpente de fogo seu flanco, fê-lo rodopiar a dois metros de altura, atirando-o a considerável distância.
Transido de dor, safou-se manquitolando e berrando como louco, sumindo-se pelas brumas do astral inferior.
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