sábado, 16 de janeiro de 2010

O amor e a bebida

"O senhor não daria banho a um leproso nem por um milhão de dólares? Eu também não. Só por amor se pode dar banho a um leproso".
(Madre Teresa de Calcutá)

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Ela estava sob forte efeito do álcool.

Tenteante, apoiou-se na parede, levou à mão ao busto e, sem poder conter o fluxo, regurgitou todo o banquete da noite.

-Estou mal! - ela declarou, pálida.

Fez uma cara de repugna: a boca estava amaríssima, na ponta da língua sentia o azedume do suco gástrico.

O namorado abraçou-a, compadecido:

-Eu te alertei, amor! Você sabe que não deve.

O amor dele superava o fantasma do alcoolismo que acompanhava a garota desde os primeiros anos da adolescência.

-Eu vou parar! - ela disse numa convulsão de choro. Eu preciso parar!

Na calçada, sob a claridade das luzes dos postes, ele abraçou fortemente sua trôpega amada.

Beijaram-se. Longamente. Intensamente. Uma amálgama acérrima de saliva, vodka, resíduos de aspargo, vitela e creme de chantilly revolucionava entre as bocas febris.

Era um amor puro, verdadeiro.

Uma embolia repentina fê-la rechaçar o amante bruscamente. Ela não pôde conter-se. Um jacto de vômito atingiu a face dele, respingando pontículos do parmesão, do palmito e do champignon no seu terno alvo.

Como um eterno amado, ele aguardou pacientemente que a garota se recompusesse, para trazê-la novamente a si e dar-lhe novo beijo e umas cápsulas de antiácido.

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