...
O neófito entrou no templo emocionadíssimo
.Agora era quase um iniciado.
Enfiado num túnica negra, com capuz, penduricalhos - ele tentou relembrar os 437 itens do ritual que teria que executar, passo-a- passo, para receber finalmente a sagração pela boca do grão-mestre.
Uma implacável assembléia de homens gravemente eretos formava um maldito círculo ao redor do infeliz candidato, à espera de qualquer deslize.
Não, ele não podia falhar!
Com muuuuita cautela, executou quase todos os gestos e palavras cabalísticos que o interminável ritual exigia. Digo-vos quase todos, porque, o derradeiro... ah, o derradeiro, aqui a cobra fumou!
Ele já se ajoelhava diante do grão-mestre, e só faltava um mote latino, o ÚLTIMO, para finalmente receber o seu tão esperado "sacramento". Mas as malditas palavras fugiram da sua mente.
Quase em pânico, fez uma pausa, vasculhou a memória à caça das fujonas - e nada!
Perplexo, ouviu o oficiante soprar-lhe algo: "Felix qui potuit..."
-Felix... - balbuciou o pobre iniciado tentando se lembrar da frase toda. Felix qui potuit... felix qui potuit...
-Não! - berrou o grão-mestre recolhendo a espada e interrompendo o ritual. Não pode repetir "felix qui"! Não serve! Tá fora!
E então precipitaram-no com truculência templo afora.
Sentado na calçada, murcho, quase aos prantos, ele retirou do bolso o extenso papel com a colinha do ritual que usara para memorizar até o último instante. E leu a última linha, a maldita linha que lhe fugira na hora H:
-"Felix qui potuit rerum cognoscere"...
E acrescentou, derrotado:
-Geórgicas de Virgílio, 30 a.C. Eu mereci...
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